terça-feira, maio 11, 2021

QUE ESCURIDÃO ASSUSTADORA!

Que abismo sem fundo!


Se os dias passados foram um contínuo mergulhar de trevas, hoje é mais, ainda muito mais.

— Meu Deus, como pode aumentar isto? De onde vêm elas?

É por entre esta escuridão medonha, aterradora, que eu caminho, de cruz sobre os ombros, mãos atadas e o corpo todo chagado. Ouço o sangue que rega a terra, saído das minhas veias. Ouço o estalar dos ossos ao ser arrastada pelas cordas. Dores sufocantes tiram-me a vida. Não há quem se compadeça do meu penar. E eu perdi Jesus, ou sinto que O perdi. Como poderei viver sem Ele? O que será de mim? Veio o demónio com um ataque violentíssimo. De manhãzinha cedo, principiei a sentir que o meu corpo não estava completo, como se uma podridão tivesse desfeito parte dele. Causou-me e causa ainda grande dor e impressão. Mal eu pensava que eram manhas do demónio! Foi o meio de que ele se serviu para horas depois me afligir. Aumentou a sua malícia e artes, como senhor e habitador de mim. Principiou a dizer-me:

— Olha como tu estás! A maldade dos teus crimes apodreceu o teu corpo.

Uma chuva de nomes e coisas feias caiu sobre mim.

— Jesus, Mãezinha, não quero pecar, sou a Vossa vítima.

Que medo, que horror! Parecia-me pecar e querer pecar. Sentia pena por não satisfazer mais os meus desejos desordenados. Tremendo horror! Levantava os meus olhos para a Mãezinha e para Jesus. Um abismo aterrador se colocou à frente dos meus olhares. Que escuridão assustadora! Que abismo sem fundo! E eu cega de maldades e desejos pecaminosos. Fiquei louca, preocupada com este viver. Veio Jesus, o remédio da minha alma.

— Minha filha, és cândida, és pura, pureza virginal, candura celeste. Repara! Vê aqueles traços doirados, aquelas flores luzentes que passam naquele abismo. É a tua pureza, é a tua reparação; reparação que me consola, pureza que pouco a pouco vai purificando as almas que nele estão. É pureza que passa no lodo e na lama sem se manchar e à sua passagem deixa seu brilho para iluminar e arrancar das trevas as almas que nele estão, trevas do pecado, trevas infernais. Não são trevas de amor, trevas de reparação, trevas enviadas por mim. Coragem, minha pura, minha bela. Não pecaste. (Alexandrina Maria da Costa: 11 de Maio de 1945).

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