O meu estado físico era gravíssimo
O meu estado
físico era gravíssimo, temiam tirar-me do leito para tão longa viagem; até eu temia,
e muito, pois se não consentia que me tocassem no corpo, como havia de poder ir
tão longe!... Animada com as palavras de Nosso Senhor, confiava n’Ele e, sob a
Sua acção divina, preparei-me para sair na madrugada de 1 de Julho de 1941.
Eram quatro horas da manhã, já eu tinha feito as minhas orações e, para fingir
que ia muito alegre, principiei a chamar minha irmã, dizendo-lhe que íamos para
a cidade. Só por este meio escondia a minha dor e alegrava os meus. Quando
dizia isto, senti o automóvel que pouco depois chegava a nossa casa. Entrou no
meu quarto o Sr. Dr. Dias de Azevedo, acompanha por um senhor amigo. Depois de
conversarmos um pouco, minha irmã vestiu-se e preparámo-nos para sair. Às 4,50
partimos, era ainda de noite, para não alarmar o povo, e saímos da nossa
freguesia sem encontrar ninguém.
Em que silêncio
ia a minha alma! Mergulhada num abismo de tristeza, mas sem me separa um
momento da união íntima do meu Jesus, ia-lhe pedindo sempre toda a coragem para
o exame que ia ter; e pelo seu divino amor e pelas almas oferecia todo o meu
sacrifício. Chamava pela Mãezinha e pelos santos e santas a quem mais amava.
Não ligava importância a nada e tudo o que se me deparava causava-me profunda
tristeza. De vez em quando, interrompiam o meu silêncio perguntando-me se ia
bem. Agradecia, sem sair do abismo em que ia mergulhada. Era já dia claro
quando parámos em casa do senhor que nos acompanhava, na Trofa. Era aí que eu
ia descansar e receber o meu Jesus, esperando pela hora de seguir para o Porto.
Antes de continuar a minha viagem, levaram-me ao jardim do Sr. Sampaio.
Amparada e sob a mesma acção divina, fui até junto de umas florinhas, que
colhi, dizendo: «Quando Nosso Senhor criou estas florinhas, já sabia que hoje
as vinha aqui colher.» Depois, fui fotografada em dois lugares escolhidos.
Desloquei-me de um lugar para o outro por meu pé, o que nunca pude fazer depois
que acamei, pois nem sequer podia voltar-me de lado, na cama. Só um milagre
divino, porque sem ele não me mexia, nem sequer consentia que me tocassem.
Depois, entrei no
carro, segui a viagem, e a minha alma sofria horrivelmente. À distância de seis
quilómetros do Porto, Nosso Senhor retirou a Sua acção divina. Principiei a
sentir todos os sofrimentos do meu corpo e tornou-se tormentosa o resto da
viagem e disse, não por saber a distância que faltava, mas o meu estado fez-me
falar assim: «Já estamos perto do Porto.» E alguém me disse: «Estamos,
estamos.» Porque tinha visto que só faltavam os 6 quilómetros a que me referi.
(Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)
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