Tenho de sofrer e agonizar
Por vezes o fogo
que sinto em meu coração parece nunca mais se apagar. E o que quero fazer? O
que tenho a fazer? Nem eu sei. Quero salvar o mundo, quero ver este fogo
incendiado na terra para atingir todos os corações. Parece que ando louca a
bater à porta de todos a convidá-los a deixarem o pecado, a amarem só a Jesus.
Tenho de ver, tenho de fazer nascer um mundo novo, um mundo puro, um mundo do
céu. Tenho de sofrer e agonizar por ele, tenho de morrer nas trevas para dar
luz. Oh! e como eu caminho para elas! Obriga-me o amor, só o amor. Continuam em
mim os olhares que não me pertencem. Além das atracções têm tantos enleios! Que
confusão a minha! E o sorriso dos meus lábios também não é meu. Parece-me um
sorriso que tem braços para abraçar eternamente e bálsamo para curar todas as
chagas. Não sei, não sei o que se passa em todo o meu corpo. O que está nele
não me pertence. Estes enleios, ternuras, prisões, doçuras e amor nada têm que
ver comigo, nada têm que atribuir a mim, este corpo não é meu, esta vida minha
não é. Tudo se passa nas minhas trevas. Se eu soubesse exprimir! Se eu soubesse
mostrar tudo isto para bem das almas e glória do meu Jesus, deixava de ser
vítima, já não sofria. O céu não me falta, mundos e mundos vão ficando sobre
mim. Eu a submergir-me cada vez mais na escuridão, abrasada em sede do amor de
Jesus, em ânsias de Lhe dar almas. Não olho aos sofrimentos; caminho, caminho.
Vejo tudo quanto me espera. Vou como ovelha muda que nada sabe dizer. Vejo a ingratidão,
o sangue que tenho de derramar, o calvário e a morte. Sinto as almas que nele
têm de ser banhadas. Fito os meus olhos no céu: venha o que vier, tenho que dar
o céu ao mundo, tenho que comprá-lo com a moeda do meu sofrimento. (Alexandrina
Maria da Costa: 17-05-1945)
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