“Um abismo de santidade e
sabedoria”
O Mons. Vilar (Terroso, Póvoa de Varzim, 14/9/1903 – Porto, Hospital de S. Francisco, 7/3/1941) foi no seu tempo um sacerdote muito prestigiado, “um dos membros mais ilustres do Clero português”, como se escreveu à sua morte. Tendo ido muito cedo para o seminário diocesano bracarense, seguiu em 1922 para Roma, para a Universidade Gregoriana, onde se doutorou em Filosofia e Teologia. Lá se ordenou em 29/7/1928, celebrando a sua primeira missa no Santuário do Loreto, em 5 de Agosto.
Em 1929, veio
para professor do Seminário Conciliar e foi elevado à dignidade de cónego em
25/5/1931. No ano seguinte foi nomeado vice-reitor da instituição e, em 1936,
reitor. Coube-lhe a tarefa meritória de reorganizar os estudos do seminário em
moldes modernos e de reconhecida qualidade científica, após as dificuldades
advindas da Primeira República.
Em 1939 é nomeado
reitor do Pontifício Colégio Português de Roma e ascende à dignidade de
monsenhor.
Da despedida do
seminário e da intervenção de várias entidades, mesmo poveiras, aquando da
partida para Roma, foi elaborado um livro, intitulado O Senhor Cónego Vilar,
que, embora se apresente anónimo, é devido aos cuidados do terrosense António
Sousa Carvalho (depois Fr. António do Rosário, O.P.)
Em Roma, Mons.
Vilar proferiu palestras semanais na emissão portuguesa da Rádio Vaticano, que
eram depois retransmitidas pela Rádio Renascença (fundada por Mons. Lopes da
Cruz, natural também de Terroso).
Atacado por uma
doença pulmonar em 1940, vem primeiro para Lisboa e depois para o Hospital de
S. Francisco, no Porto, onde falece, com 39 anos.
Sabendo-se que
foi este jovem sacerdote quem diligenciou junto de Pio XII com vista a
transmitir-lhe a vontade de Jesus manifestada à nossa Beata de que o mundo fosse
consagrado ao Imaculado Coração de Maria, já se vê quanto ele nos interessa.
Quando vai para Roma, em Março de 1939, já desde Janeiro visitava oficialmente
Balasar.
Da longa carta do
cónego Dr. Molho de Faria que vem no livro O Senhor Cónego Vilar vamos
transcrever alguns parágrafos:
O Cónego Vilar
propôs-se um grande ideal que jamais perdeu de vista. Sabia muito bem que era
necessário ao homem, que aspira singrar na vida e fazer alguma coisa acima da
vulgaridade no apostolado das almas, fixar-se em altos ideais. Sabia, pois, que
era necessário procurá-los, concebê-los e encarná-los, para ir até às últimas
consequências na sua realização. Sabia que sem eles o homem nada faria ou
rastejaria mísera e mesquinhamente.
O Mons. Vilar era
apenas um ano mais velho que a Alexandrina e morreu logo adiante, de cancro,
oferecendo a sua vida pela santificação dos sacerdotes, sem conseguir concluir
a missão junto da Santa Sé.
Nas suas visitas
a Balasar, usou de grande delicadeza. Em certo sentido, ele parecia irmão da
Alexandrina, apesar da sua formação universitária e méritos intelectuais.
O seu
reconhecimento da autenticidade das vivências místicas da Doente de Balasar bem
como algumas notáveis cartas que lhe enviou foram argumentos com que se
escudavam os defensores da Alexandrina ao tempo em que Braga quis
que se fizesse silêncio sobre ela.
O Mons. Vilar
associou a Alexandrina à sua tarefa de direcção do Colégio Português de Roma,
chamando-lhe sua “colaboradora providencial”. O que estava certo, pois Jesus
virá a chamar-lhe “doutora das ciências divinas” e a afiançar que nela deverão
aprender “os pequenos, os grandes, os ignorantes e os sábios”...
Esta, por sua
vez, deixou sobre ele as palavras mais elogiosas; referiu-se-lhe como “um
abismo de santidade e sabedoria”. Ninguém fora tão longe. Veja-se o contexto da
expressão:
Como me sentia
muito bem a conversar com ele (o Mons. Vilar) e como tinha toda a
licença do meu Director espiritual, falámos muito, mesmo muito de Jesus, porque
sentia-me como que mergulhada num abismo de santidade e sabedoria, o que raras
vezes me acontece, mesmo com sacerdotes. Disse-lhe que não falava assim com
outros senhores Padres, porque não era feitio meu, mas sim pela confiança que
nele sentia. Sua Reverência respondeu-me:
— Faz muito
bem, Alexandrina, em nada dizer porque, se lhes dissesse, eles não a
compreenderiam.
Chorei quando Sua
Reverência se despediu de mim na partida para Roma. Prometeu escrever-me de lá,
dizendo-me que ficaria a ser a sua intercessora na terra.
O Rev. Cónego
Costa Lopes, num opúsculo que escreveu para recordar o centenário de Mons.
Vilar, colocou uma muito bela consagração a Nossa Senhora feita pelo Mons.
Vilar no dia da sua ordenação sacerdotal, que aqui se copia.
“Ó minha Senhora
e Mãe, Maria Imaculada, o mínimo e o maior pobrezinho dos vossos filhos e
servos, neste dia da minha ordenação sacerdotal, o dia mais solene e mais belo
da minha vida, faço-Vos a entrega livre solene da minha alma, do meu coração,
de toda a minha vida, de todo o meu ser. Vós que me conduziste até ao altar,
sede agora no sacerdócio o meu guia, o meu conselheiro, a minha protecção, o
meu refúgio.
Como a criancinha
que com amor e confiança ilimitada se lança nos braços de sua mãe, assim eu me
lanço nos Vossos braços, me escondo em Vosso manto, Não, não me deixeis. E
quando à hora da minha morte eu lançar um olhar sobre a minha vida passada no
sacerdócio, tenha a consolação de ver que toda foi dirigida por ti, abençoada
por ti r que nem um só passo dei fora das tuas vistas. Tornai-me sempre cada
vez mais viva e penetrante a grandeza e a sublimidade no sacerdócio, e
tornai-me sempre cada vez mais digno de o exercer.
Ó minha Mãe, é
todo Vosso e todo Vos pertence o Vosso pobrezinho filho, Manuel.”
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