«Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria?»
A mais antiga que
conhecemos encontra-se na sua autobiografia e situa-se após o salto que deu
pela janela, para escapar aos ardores de um homem que a perseguia.
Este salto foi o
acidente que causou a sua paralisia, que durou até à sua morte.
Sendo ainda
jovem, gostaria de curar e de viver uma vida feliz como todas as jovens da sua
idade, mas não era esse o plano de Deus sobre ela.
Ouçamo-la
explicar:
«Como me falassem dos milagres de Fátima e sabendo
eu, em 1928, que várias pessoas iam à Cova da Iria, nasceram em mim desejos de
ir também. O médico assistente e o meu pároco não me deixaram, dizendo que era
impossível ir tão longe, se eu mal consentia que me tocassem na cama. O Sr.
Abade dizia-me que pedisse daqui a acura e que, depois, iria a Nossa Senhora de
Fátima agradecer tão grande graça. O médico prometeu passar o atestado se o
milagre se desse.
Nesse ano, o Sr. Abade foi a Fátima e perguntou-me
o que queria de lá. Pedi-lhe que me trouxesse uma medalha, mas ele ofereceu-me
um terço, uma medalha, o «Manual de Peregrino» e alguma água de Fátima. Sua
Reverência aconselhou-me a fazer uma novena a Nossa Senhora e a beber água de
Fátima com o fim de ser curada. Não fiz uma, mas muitas. Cantava muito e dizia
às pessoas vizinhas que me visitavam: se um dia me vissem pelo caminho e me
ouvissem cantar, era eu que ia agradecer a Nossa Senhora o benefício que
recebia. Pensava que seria curada, mas enganei-me; era a minha grande confiança
na Mãezinha e em Jesus que me fazia falar.» (Autobiografia)
Mais tarde, já
acamada para sempre, teve, em diversas ocasiões, a felicidade de receber a
visita da Mãe de Deus e nossa Mãe.
No dia 13 de
Dezembro de 1942, ela escreveu no seu Diário:
«Na manhãzinha do dia 13, quando
estava a rezar à Mãezinha “Avé Maria” com jaculatória por várias intenções, vi
a Mãezinha de Fátima em tamanho natural elevada a grande altura, suspensa no
ar. Em baixo à volta dela um universo de povo para quem ela se inclinava e
olhava com todo o carinho.»
Aqui a visão da
multidão reunida na Cova da Iria é evidente, e portanto, ela nunca lá foi.
Dois anos mais
tarde, nova visita de Nossa Senhora de Fátima, também silenciosa:
«Foi de noite, não sei a hora, vi a meu lado a
Mãezinha de Fátima; não se demorou, não me falou. Senti que Ela veio mostrar-me
que não estava sozinha, que Ela estava a meu lado.» (S. 21-11-1944)
Este amor da
Mãezinha para com ela fazia-a feliz e estimulava-a na sua devoção a Maria, a
sua querida “Mãezinha”, como ela gostava de a chamar.
Em 1945,
escrevendo sobre o seu amor à Virgem de Fátima e ao dia 13 do mesmo mês, ela explica:
«Nunca ano nenhum, no dia 13 de cada mês, passei
tanto em Fátima como no dia 13 deste mês de Maio. Não sei pelo quê. O meu
coração desfazia-se e desfaz-se ainda em agradecimento diante da Mãezinha
querida. Passo lá tanto tempo!» (S. 15-05-1945)
A Virgem de
Fátima que até aqui se apresentara a ela silenciosa, vai desta vez falar e
frisar as suas visitas ao quarto da “Doentinha de Balasar”. Ouçamos a Mãe de
Deus:
«Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de
Iria? Já reflectiste que, como em Fátima, aqui desço todos os meses, não
falando nas vezes que, como hoje, venho a convite do Meu Filho? É para te dar
conforto e encorajar.» (S.
13-6-1947)
Podemos pôr esta
interrogação da Virgem Maria — «Já
reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria?» ao lado de outra que
lhe foi dirigida por Jesus, também a respeito daquele quarto abençoado: «O teu quarto é o templo das maravilhas
prodigiosas do Senhor.» (S. 14-11-1947)
Sabendo que o seu
director espiritual estava muitas vezes presente em Fátima — antes de ser
exilado para o Brasil — ela tomara o hábito de ouvir as transmissões
radiofónicas em directo da basílica da Cova de Iria.
Em 17 de Outubro
de 1952, ela escreve no seu Diário — os “Sentimentos da alma” — o que a seguir
se pode ler:
«Ao ouvir, no dia 13, a
transmissão de Fátima, às invocações não desesperei, porque Jesus e a Mãezinha
velaram por mim. Quando ouvia “Meu Deus, creio em Vós, mas aumentai a minha Fé”
parecia-me que dentro de mim se repetia: não creio, não creio, não tenho Fé. O
meu sentimento era de que não havia ninguém no mundo como eu. Não tinha força
para chamar por Jesus e pela Mãezinha.»
Em Fátima a Virgem Maria, tinha avisado amorosamente aos Pastorinhos: «Se
fizerem o que eu digo…» Mas nem o mundo nem Portugal fizeram o que Ela disse,
por isso mesmo Jesus, dirigindo-se ao mundo e a Portugal, queixa-se amargamente
por não terem ouvido os conselhos da Sua Santíssima Mãe:
«Disse-me Jesus:
Ó Portugal ingrato, ó mundo cruel, o que seria de
ti sem a vítima deste calvário!... Portugal ingrato! Portugal, quantas graças
tens recebido do teu Deus?! Fátima, Fátima! Calvário, calvário! Este ditoso
calvário, meios para ti de grande reparação. Estou triste, estou triste.
Portugal ingrato! Estou triste, muito triste! O mundo cruel! Nada mais posso
fazer. Fiz tudo, fiz tudo para a salvação dos filhos do meu sangue.» (S. 09-10-1953)
Poderia alongar
estas linhas com outros exemplos não só da devoção votada por Alexandrina a
Nossa Senhora de Fátima, como também relatando outras visitas numerosas da
Virgem Maria ao “Calvário de Balasar”, como Ela mesma o sublinha: «Já reflectiste que faço do teu quarto a
Cova de Iria?»
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