terça-feira, maio 11, 2021

ALEXANDRINA E FÁTIMA

«Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria?»


Nos escritos da Alexandrina encontramos várias alusões a Fátima, ou melhor, a Nossa Senhora de Fátima.

A mais antiga que conhecemos encontra-se na sua autobiografia e situa-se após o salto que deu pela janela, para escapar aos ardores de um homem que a perseguia.

Este salto foi o acidente que causou a sua paralisia, que durou até à sua morte.

Sendo ainda jovem, gostaria de curar e de viver uma vida feliz como todas as jovens da sua idade, mas não era esse o plano de Deus sobre ela.

Ouçamo-la explicar:

«Como me falassem dos milagres de Fátima e sabendo eu, em 1928, que várias pessoas iam à Cova da Iria, nasceram em mim desejos de ir também. O médico assistente e o meu pároco não me deixaram, dizendo que era impossível ir tão longe, se eu mal consentia que me tocassem na cama. O Sr. Abade dizia-me que pedisse daqui a acura e que, depois, iria a Nossa Senhora de Fátima agradecer tão grande graça. O médico prometeu passar o atestado se o milagre se desse.

Nesse ano, o Sr. Abade foi a Fátima e perguntou-me o que queria de lá. Pedi-lhe que me trouxesse uma medalha, mas ele ofereceu-me um terço, uma medalha, o «Manual de Peregrino» e alguma água de Fátima. Sua Reverência aconselhou-me a fazer uma novena a Nossa Senhora e a beber água de Fátima com o fim de ser curada. Não fiz uma, mas muitas. Cantava muito e dizia às pessoas vizinhas que me visitavam: se um dia me vissem pelo caminho e me ouvissem cantar, era eu que ia agradecer a Nossa Senhora o benefício que recebia. Pensava que seria curada, mas enganei-me; era a minha grande confiança na Mãezinha e em Jesus que me fazia falar.» (Autobiografia)

Mais tarde, já acamada para sempre, teve, em diversas ocasiões, a felicidade de receber a visita da Mãe de Deus e nossa Mãe.

No dia 13 de Dezembro de 1942, ela escreveu no seu Diário:

«Na manhãzinha do dia 13, quando estava a rezar à Mãezinha “Avé Maria” com jaculatória por várias intenções, vi a Mãezinha de Fátima em tamanho natural elevada a grande altura, suspensa no ar. Em baixo à volta dela um universo de povo para quem ela se inclinava e olhava com todo o carinho.»

Aqui a visão da multidão reunida na Cova da Iria é evidente, e portanto, ela nunca lá foi.

Dois anos mais tarde, nova visita de Nossa Senhora de Fátima, também silenciosa:

«Foi de noite, não sei a hora, vi a meu lado a Mãezinha de Fátima; não se demorou, não me falou. Senti que Ela veio mostrar-me que não estava sozinha, que Ela estava a meu lado.» (S. 21-11-1944)

Este amor da Mãezinha para com ela fazia-a feliz e estimulava-a na sua devoção a Maria, a sua querida “Mãezinha”, como ela gostava de a chamar.

Em 1945, escrevendo sobre o seu amor à Virgem de Fátima e ao dia 13 do mesmo mês, ela explica:

«Nunca ano nenhum, no dia 13 de cada mês, passei tanto em Fátima como no dia 13 deste mês de Maio. Não sei pelo quê. O meu coração desfazia-se e desfaz-se ainda em agradecimento diante da Mãezinha querida. Passo lá tanto tempo!» (S. 15-05-1945)

A Virgem de Fátima que até aqui se apresentara a ela silenciosa, vai desta vez falar e frisar as suas visitas ao quarto da “Doentinha de Balasar”. Ouçamos a Mãe de Deus:

«Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria? Já reflectiste que, como em Fátima, aqui desço todos os meses, não falando nas vezes que, como hoje, venho a convite do Meu Filho? É para te dar conforto e encorajar.» (S. 13-6-1947)

Podemos pôr esta interrogação da Virgem Maria — «Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria?» ao lado de outra que lhe foi dirigida por Jesus, também a respeito daquele quarto abençoado: «O teu quarto é o templo das maravilhas prodigiosas do Senhor.» (S. 14-11-1947)

Sabendo que o seu director espiritual estava muitas vezes presente em Fátima — antes de ser exilado para o Brasil — ela tomara o hábito de ouvir as transmissões radiofónicas em directo da basílica da Cova de Iria.

Em 17 de Outubro de 1952, ela escreve no seu Diário — os “Sentimentos da alma” — o que a seguir se pode ler:

«Ao ouvir, no dia 13, a transmissão de Fátima, às invocações não desesperei, porque Jesus e a Mãezinha velaram por mim. Quando ouvia “Meu Deus, creio em Vós, mas aumentai a minha Fé” parecia-me que dentro de mim se repetia: não creio, não creio, não tenho Fé. O meu sentimento era de que não havia ninguém no mundo como eu. Não tinha força para chamar por Jesus e pela Mãezinha.»

Em Fátima a Virgem Maria, tinha avisado amorosamente aos Pastorinhos: «Se fizerem o que eu digo…» Mas nem o mundo nem Portugal fizeram o que Ela disse, por isso mesmo Jesus, dirigindo-se ao mundo e a Portugal, queixa-se amargamente por não terem ouvido os conselhos da Sua Santíssima Mãe:

«Disse-me Jesus:

Ó Portugal ingrato, ó mundo cruel, o que seria de ti sem a vítima deste calvário!... Portugal ingrato! Portugal, quantas graças tens recebido do teu Deus?! Fátima, Fátima! Calvário, calvário! Este ditoso calvário, meios para ti de grande reparação. Estou triste, estou triste. Portugal ingrato! Estou triste, muito triste! O mundo cruel! Nada mais posso fazer. Fiz tudo, fiz tudo para a salvação dos filhos do meu sangue.» (S. 09-10-1953)

Poderia alongar estas linhas com outros exemplos não só da devoção votada por Alexandrina a Nossa Senhora de Fátima, como também relatando outras visitas numerosas da Virgem Maria ao “Calvário de Balasar”, como Ela mesma o sublinha: «Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria?»

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