Não vejo, mas confio
O meu martírio, a
minha morte, são essas trevas que tiram a vida para não mais a restituírem. De
momento para momento vou-me sentindo mais aterrada e cansada de tanta
escuridão. Vou como quem desce um poço sem fundo, poço que traz a morte ao
encontro. Sinto que vou morrer sozinha e sem luz. O coração teme e sangra de
dor. Mas não cessa de bendizer ao Senhor. É só a pobre natureza aterrada, a
vontade está firme, está como que abraçada a Jesus e à cruz, para não mais a
deixar. Não vejo, mas confio; não sinto, mas creio; Jesus e a Mãezinha não me
deixam e hão-de vir ao meu encontro no momento derradeiro. Os sentimentos da
minha alma obrigam-me a acreditar que minto a mim mesma, que a todos engano.
Confio que Jesus assim o quer. É o meu martírio, pois sinto a paz que o mundo
não dá, sinto a paz que só de Deus pode vir, sinto a paz que o demónio não quer
e se esforça por me fazer perder. Não acredito, não pode ser, Jesus não me
deixa. Só Ele sabe o que se passa na minha alma, e que tudo faço com os olhos
n’Ele e por amor das almas. O meu Jesus não me engana, acredito n’Ele e não no
demónio, que todos os meios emprega para me perder e fazer ofender a Jesus.
Neste intervalo de dias, veio uma só vez com todas as suas manhas infernais.
Mas, ai, que medo eu tenho! Tenho medo por ter medo da minha fraqueza e não
quero ferir Jesus. Lutei com ele por muito tempo. A luta foi sobre um tremendo
e doloroso abismo. Parecia-me que as suas artes me prendiam as mãos para não
possuir nelas o terço nem a Mãezinha. Ao terminar do combate, principiou a cair
sobre mim uma chuva de ouro torrencial e a penetrar em todo o abismo, e o seu
brilho luzente resplandecia por toda a escuridão. Eu estava fora do meu lugar e
ouvi a voz de Jesus a dizer:
— Anjo de
amparo, anjo de conforto, anjo de luz e de amor da minha filhinha e esposa
querida, leva-a ao seu lugar. (Alexandrina Maria da Costa: 15-05-1945)
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