O Dr. Gomes de Araújo foi prudente e delicado
Antes de entrar
na sala de consultas, dizia aos que me levavam nos braços: «Pousai-me,
pousai-me, ainda que seja no chão!» De repente, apareceu o médico e instalou-me
numa cama de observações, e aí estive até que fosse observada. Pouco antes de
ir para a sala de consultas, Nosso Senhor tirou-me a agonia da alma,
deixando-me só os sofrimentos físicos. Já podia resistir melhor.
Principiou o
exame que foi muito doloroso e demorado. Quando me despia, disseram-me que não
me afligisse. E eu, recordando o que fizeram a Nosso Senhor, disse: «Também
despiram Jesus», não pensando em mais nada. O Dr. Gomes de Araújo, apesar de me
parecer um pouco brusco, foi prudente e delicado.
De o regresso a
casa, voltou Jesus a exercer sobre mim as Sua acção divina para continuar a
minha viagem, mas deu-me de novo as agonias da alma. Ao passar em Ribeirão, fui descansar em casa do Sr. Dr. Dias de
Azevedo, a esperar pela noite, para poder entrar na freguesia sem ninguém
perceber.
Tanto numa casa
como na outra, fui tratada por todos com muito carinho, mas nada me confortava.
Sorria a tudo, encobrindo o mais possível a minha dor. Saí de lá já de noite, e
tudo me convidava a um silêncio cada vez mais profundo. Tudo me passava
despercebido. Durante a viagem, só reparei numas flores do jardim de Famalicão,
porque me chamaram a atenção para elas. Chegámos a casa era meia-noite e assim
conseguimos que ninguém desse pela minha saída.
Depois desta
viagem, os sofrimentos agravaram-se muito, muito. Tudo o que deveria sentir no
dia da viagem guardou-me Nosso Senhor para o dia seguinte, piorando sempre cada
vez mais. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)
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