domingo, maio 16, 2021

EXAME DOLOROSO E DEMORADO

O Dr. Gomes de Araújo foi prudente e delicado


A ida de carro para o consultório foi o que há de mais doloroso. No corpo, sentia o maior martírio, e na alma a maior agonia, parecendo que morria.

Antes de entrar na sala de consultas, dizia aos que me levavam nos braços: «Pousai-me, pousai-me, ainda que seja no chão!» De repente, apareceu o médico e instalou-me numa cama de observações, e aí estive até que fosse observada. Pouco antes de ir para a sala de consultas, Nosso Senhor tirou-me a agonia da alma, deixando-me só os sofrimentos físicos. Já podia resistir melhor.

Principiou o exame que foi muito doloroso e demorado. Quando me despia, disseram-me que não me afligisse. E eu, recordando o que fizeram a Nosso Senhor, disse: «Também despiram Jesus», não pensando em mais nada. O Dr. Gomes de Araújo, apesar de me parecer um pouco brusco, foi prudente e delicado.

De o regresso a casa, voltou Jesus a exercer sobre mim as Sua acção divina para continuar a minha viagem, mas deu-me de novo as agonias da alma. Ao passar em Ribeirão, fui descansar em casa do Sr. Dr. Dias de Azevedo, a esperar pela noite, para poder entrar na freguesia sem ninguém perceber.

Tanto numa casa como na outra, fui tratada por todos com muito carinho, mas nada me confortava. Sorria a tudo, encobrindo o mais possível a minha dor. Saí de lá já de noite, e tudo me convidava a um silêncio cada vez mais profundo. Tudo me passava despercebido. Durante a viagem, só reparei numas flores do jardim de Famalicão, porque me chamaram a atenção para elas. Chegámos a casa era meia-noite e assim conseguimos que ninguém desse pela minha saída.

Depois desta viagem, os sofrimentos agravaram-se muito, muito. Tudo o que deveria sentir no dia da viagem guardou-me Nosso Senhor para o dia seguinte, piorando sempre cada vez mais. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

NA IMAGEM
A beata Alexandrina, o Refúgio da Foz do Douro e o Dr. Henrique Gomes de Araújo.

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