Aquele canal tinha a vida divina
Esquecida d’Ele e
da Sua santa paixão, ou melhor, não esquecida mas mergulhada neste sofrimento
de esquecimento, fiquei no solo duro e triste do Horto. Foi tristeza e agonia
mortal. Apavorada a minha alma, a lutar com todo o martírio, senti como se um
canal descesse do Céu e dentro dele me introduzisse. Aquele canal tinha a vida
divina. E toda a minha vida terrena, todo o meu ser de misérias foi por ela
trespassada como raios de sol doirados e penetrantes. Que mistura, que mistura…
a terra com o Céu! Se eu soubesse exprimir-me com soube sentir, levava uma vida
inteira só a falar disto, sem acabar. Acompanhei Jesus na prisão. Durante a
noite, repetidas vezes lá nos encontrámos, assim como no sacrário. Hoje de
manhã segui para o Calvário, seguiu a minha alma. Os caminhos não tinham sol, a
tristeza foi mortal. No percurso da viagem fiz vários sacrifícios por amor do
Senhor. Senti como se Ele tudo me rejeitasse. Com Ele subi até ao cimo da
montanha. Naquela noite trevas e mar infinito de dor, Ele coberto de sangue,
com as carnes despedaçadas, quase a agonizar, dizia-me em silêncio dentro do
coração: “Ama-me, vê quanto sofri por ti!” Com Ele fui despojada dos meus
vestidos, com Ele senti a vergonha, o pudor e com Ele fui crucificada. Nas
horas de agonia senti que a nossa união era um contraste, era um anel que nos
apertava e nos levava a viver a mesma vida. Agonizei com Jesus. eu bradava com
Ele e ao nosso brado toda a terra estremeceu. Ele expirou. Tive que expirar com
Ele. Não foi prolongado o silêncio da noite: Jesus cheio de vida e luz fez-me
viver e dentro do meu coração falou-me assim:
— Alegrai-vos,
está aqui o Senhor. Desceu do Céu. Bendizei o Seu nome! Alegrai-vos! Está aqui
Jesus. Está no seu trono, no seu paraíso de delícias. Alegrai-vos! Ele está
aqui e vai falar aos vossos corações. Convido-vos, convido-vos a todos. Vinde a
Mim! Vinde a Mim, filhos meus! Falo pelos lábios da minha vítima, falo e peço a
toda a humanidade. Amai-me, amai-me. Quero ser amado. Está neste calvário a luz
e o farol do mundo. Está neste calvário a escora da justiça do Senhor. Está
neste calvário o íman atraente que atrai as almas ao Seu Coração. Está neste
calvário o porta-voz de Jesus. Este calvário é um portento de graças. Este
calvário é o calvário das maravilhas de Deus. Este calvário é, sobretudo,
calvário do amor, do amor da louca do amor por Jesus. Criei-te por amor, minha
filha. Por amar-te, escolhi esta nobilíssima missão. Por amor te conservo a tua
vida aqui. Vives de Jesus. Vives da Eucaristia. Vives da vida divina. É o poder
do Senhor aqui manifestado. Quero salvar-vos, filhos meus. Indico, manifesto
pela minha vítima mais uma vez o caminho da salvação. Fala às almas, minha
filha, fala às almas. Fala-lhes enquanto estás na terra. Do Céu, sim, do Céu
dar-lhes-ás chuvas de bênçãos, chuvas de graças, chuvas de salvação. (Alexandrina
Maria da Costa: 08-05-1953)
Sem comentários:
Enviar um comentário