Este olhar penetra tudo
— Bendito
sejais, meu Jesus.
Aumentou o meu
martírio; queria deixar ocultos os últimos sentimentos da minha alma. Sei que o
não quereis, mandais-me que escreva tudo. Aceitai o meu sacrifício e dai-me
toda a luz do Divino Espírito Santo para poder escrever tudo como for da Vossa
divina vontade.
Há dias que sinto
nos meus olhos um olhar que não me pertence. Não é olhar malicioso, não é olhar
do demónio como por algumas vezes nas lutas com ele tenho sentido. A diferença
é mais do que do céu à terra. Este olhar é terno, tem doçuras, tem encantos,
tem amor; este olhar tem prisões, este olhar penetra tudo, este olhar dá luz; é
como um espelho que tudo faz reflectir, no qual nada se pode esconder. Este
olhar é como uma bala que a todos atinge. Este olhar vê para dentro e para
fora, vê tanto com os olhos abertos como com eles fechados, vê tudo, tudo, e
não sei que tem em si que atrai. Sinto que esta atracção vem de encontro ao meu
coração, e com que eu o abro para receber tudo o que nele quer entrar. Este
olhar tem ainda chaves que fecham, são chaves que só servem no coração, são
chaves que só fecham o que estes olhares a si atraem.
— Meu Deus,
não sei exprimir melhor os meus sentimentos, não sei aclarar mais o que dentro
em mim se passa. Desfaço-me em amor, bondade e carinho. Que riqueza sinto em
mim! Nada disto me pertence. Minha é a dor que destes sentimentos é motivada.
Temo e tremo. Meu Jesus, não permitais que tudo isto nasça de mim, mas sim de
Vós, só de Vós. Aceitai toda a minha agonia.
Sinto como se
tudo isto fosse escrito com sangue tirado do meu coração. (Alexandrina Maria da
Costa: 15-05-1945)
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