sábado, maio 15, 2021

ESTE OLHAR DÁ LUZ

Este olhar penetra tudo


— Anima-te, alegra-te, minha pomba bela, não pecaste. A chuva doirada que sobre ti e o abismo caía é a chuva do meu divino amor, recompensa da tua reparação. Por ti foi levada ao abismo, para dar nele luz às almas, para que venham ao meu Divino Coração. Coragem, coragem, minha filhinha querida, virgem pura, esposa amada.

— Bendito sejais, meu Jesus.

Aumentou o meu martírio; queria deixar ocultos os últimos sentimentos da minha alma. Sei que o não quereis, mandais-me que escreva tudo. Aceitai o meu sacrifício e dai-me toda a luz do Divino Espírito Santo para poder escrever tudo como for da Vossa divina vontade.

Há dias que sinto nos meus olhos um olhar que não me pertence. Não é olhar malicioso, não é olhar do demónio como por algumas vezes nas lutas com ele tenho sentido. A diferença é mais do que do céu à terra. Este olhar é terno, tem doçuras, tem encantos, tem amor; este olhar tem prisões, este olhar penetra tudo, este olhar dá luz; é como um espelho que tudo faz reflectir, no qual nada se pode esconder. Este olhar é como uma bala que a todos atinge. Este olhar vê para dentro e para fora, vê tanto com os olhos abertos como com eles fechados, vê tudo, tudo, e não sei que tem em si que atrai. Sinto que esta atracção vem de encontro ao meu coração, e com que eu o abro para receber tudo o que nele quer entrar. Este olhar tem ainda chaves que fecham, são chaves que só servem no coração, são chaves que só fecham o que estes olhares a si atraem.

— Meu Deus, não sei exprimir melhor os meus sentimentos, não sei aclarar mais o que dentro em mim se passa. Desfaço-me em amor, bondade e carinho. Que riqueza sinto em mim! Nada disto me pertence. Minha é a dor que destes sentimentos é motivada. Temo e tremo. Meu Jesus, não permitais que tudo isto nasça de mim, mas sim de Vós, só de Vós. Aceitai toda a minha agonia.

Sinto como se tudo isto fosse escrito com sangue tirado do meu coração. (Alexandrina Maria da Costa: 15-05-1945)

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