A Eucaristia
Também na Alexandrina Jesus quer pôr em evidência o valor da Eucaristia.
Em 1946 está muito consumida com os sofrimentos e com o jejum, que dura
desde 42. Alguns sugerem ajudá-la com injecções nutritivas.
O Dr. Azevedo não quer fazer nada contra a vontade divina. Então a
Alexandrina pergunta a Jesus:
— Ó meu Jesus, eu
quero sofrer, mas saber que em tudo faço a vossa divina vontade. Se quiserem
que eu me alimente, se quiserem aplicar-me injecções, que devo eu fazer?
— (...) Não quero que
tu uses medicina, a não ser aquela a que não possam atribuir alimentação.
Esta ordem é para o teu
médico: será ele que toma a tua defesa.
Quero que ele continue com
toda a sua vigilância a amparar-te: é grande o milagre da tua vida. Que ele me
ajude, que te ampare! S (7-12-46)
No desígnio de Jesus o jejum da Alexandrina é um martírio mais que deve
levar os homens a meditarem sobre a Eucaristia.
Em Abril de 54 isto será claramente expresso:
— Faço
que tu vivas só de Mim para mostrar ao mundo o valor da Eucaristia e o que é a
minha vida nas almas.
És
luz e salvação para a humanidade. Ditosos aqueles que se deixam iluminar! S (9-4-54)
O valor nutritivo da Eucaristia está bem provado com o facto de que a
Alexandrina, durante o jejum total, não poderia sobreviver. De facto Jesus
promete-lhe que não a deixará sem a Eucaristia em nenhuma sexta-feira, dia em
que se esgota muito ao reviver a Paixão, mesmo sem movimentos.
Em certos períodos o pároco (único que lhe pode levar Jesus) está
ausente; há depois as sextas-feiras santas, em que a liturgia consente receber
a Eucaristia só como Viático (quando vivia a Alexandrina).
Mas Jesus supre quando falham os homens, mostrando mais uma vez o seu poder
no Caso da Alexandrina, que receberá misticamente, mas realmente, da mão dum
anjo ou do próprio Jesus, a Hóstia consagrada!
Transcrevamos de algum diário:
— Prepara-te,
filhinha: ou dar-Me a ti. (...) Repara: desce o Céu sobre ti.
Dou-Me
a ti numa Comunhão real, numa Comunhão Eucarística.
Desceu sobre mim a abóbada
do céu:
— Que lindo, que
lindo! — exclamei eu — Vale a pena, meu Jesus, sofrer e sofrer tudo para
possuir o Céu. (...)
Parece-me bem que estendi
a língua para receber Jesus.
Ficámos por alguns
momentos num silêncio profundo, numa união tão grande. S (30-3-45)
Jesus insiste em afirmar que se trata duma real Comunhão eucarística.
Em 13 de Maio de 49 dirá:
— Vais
receber-me em Corpo, Sangue, Divindade, como estou no Céu.
Em 4 de Abril de 47 é Sexta-Feira Santa: Jesus dá-Se-lhe como Viático:
— Minha
filha, minha esposa querida, vais agora (apenas terminado o êxtase da Paixão)
receber-Me pelas mãos do teu Anjo da Guarda. Vêm ao seu lado S. Miguel Arcanjo
e o Anjo S. Gabriel. Atrás deles seguem-nos uma grande multidão deles.
Prepara-te: descem do Céu (...)
Inclinou-se para mim o
Anjo. Eu estendi-lhe a língua e ele, ao dar-me Jesus, não principiou pelas
palavras do costume, mas sim: “Viaticum Corpus Domini nostri Jesu Christi
custodiat animam tuam in vidam aeternam” [1].
(...)
Fiquei mergulhada em amor,
numa intimidade com Jesus: parecia-me inseparável dele.
— Minha filha, dei-Me
a ti em alimento: sou a tua vida. Dei-Me desta forma para mais e melhor mostrar
as minhas maravilhas e para mostrar que estou contente com os meus
representantes na terra, com a doutrina da minha Igreja. (...) Recebeste-Me
como Viático; e é verdade que és enferma e sem um milagre divino não terias
resistido à dor: estavas moribunda. S (4-4-47)
Transfusão de sangue, efusão de amor
O fenómeno da Eucaristia real dada misticamente já se tinha verificado com
algumas grandes almas muito elevadas na espiritualidade, dotadas duma especial
sensibilidade para as realidades celeste. Por exemplo, S. Verónica Giuliani, S.
Gema Galgani; e em 1916 Jesus escolheu a pequena Lúcia de Fátima para dar-Se a
ela mediante o anjo da guarda.
Mas a Beata Alexandrina recebe ainda um outro alimento para o corpo e para
a alma: um conjunto de sangue, vida, amor, sob forma de verdadeira transfusão
para o sangue e de efusão para o amor. É a primeira alma mística para quem se
efectua tal fenómeno. O próprio Jesus o afirma:
— Vou dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu
infinito amor, a maior de todas as maravilhas, a maravilha única, que tinha
destinado de dar à maior vítima da humanidade, a quem confiei a missão mais
sublime”. S (13-2-48)
— Que grande graça, que grande prodígio o sangue do Crucificado do
Gólgota correr nas veias da maior crucificada da humanidade!
Jesus ia falando — ajunta a Alexandrina — e a gota do seu precioso Sangue
passava lentamente.
Que união intima: o seu divino Coração unido ao meu! S (11-6-48)
É importante notar que tal transfusão de sangue não é um facto puramente
espiritual, como a efusão de amor. Não, não! É sangue verdadeiro, concreto, que
lhe faz dilatar o coração de modo sensível e que deve compensar o sangue que a
Alexandrina perde frequentemente, e mesmo durante longos períodos diariamente!
Jesus diz-lhe:
— Dar-te-ei
o meu Sangue gota a gota, assim como gota por gota o dás por Mim e pelas
almas. S (29-6-45)
— Recebe-o
antes que percas todo o sangue que tens em tuas veias.
Quero
sempre esta mistura: o sangue da vítima deste Calvário (o lugar de Balasar onde
vive Alexandrina), da maior vítima da humanidade, com o sangue da Vítima do
Gólgota, de Cristo redentor. Assim tens todo o poder e tudo vencerás. S (19-10-45)
No fim do diário de 9 de Novembro de 45 o Dr. Azevedo colocou a seguinte
nota:
Há três meses que a doentinha tem diariamente perda de sangue.
— Se o mundo soubesse que é a tua vida! Se ele soubesse o sangue que
corre em tuas veias, quereriam tocar teu corpo como foi tocado o meu
(...) S (27-12-46)
— Recebe a gota do
meu divino Sangue: é o remate, é a coroa das minhas maravilhas em ti. É o
sangue de Cristo, é o sangue que trouxe do ventre puríssimo de minha Mãe
bendita, a girar, a correr em ti, nas tuas veias! S (11-11-49)
O sangue que Jesus lhe transmite tem indubitavelmente o objectivo de
sustentá-la, de ajudá-la a não ceder sob o peso dos enormes sofrimentos que
deve suportar enquanto alma-vítima:
— Deixa
que corra em tuas veias o sangue que te dá a vida; é a vida que te dá força na
tua dor, no teu calvário. S (30-4-48)
Mas para o espírito é preciso o amor:
— O
sangue dá-te a vida ao corpo, o amor dá-te a vida à alma.
Prodígio
maravilhoso! Recebe, enche-te. S (29-4-49)
A efusão de amor é frequentemente evidenciada por luz, ardor, raios
luminosos:
Apareceu-me Jesus em
direcção a mim. Do seu divino Coração vieram para o meu uns raios luminosos que
mo atravessavam como uns punhais. Jesus parecia estar numa nuvem branca (…)
O meu coração
satisfazia-se naqueles raios: eram o seu alimento e o bálsamo de toda a dor.
O tempo foi passando e eu
mergulhada naquele doce Paraíso. S (23-7-48)
Eram tais e em tão grande
número os sofrimentos que eu não podia, sentia-me desfalecer. No meu caminho
apareceu-me Jesus (...) Da chaga do seu Sagrado Coração saíam raios brilhantes
de fogo que vinham todos para mim.
Levantou a mão, com um dedo apontou para o Céu e disse-me:
— Caminha, que Eu te
ajudarei! (...)
Esta chuva acendeu em mim um fogo ardente. A dor e a tristeza
desapareceram. Fiquei em luz clara.
— Agora sim, meu
Jesus, conheço que sois Vós! (tem sempre temor de que os fenómenos místicos que
acontecem nela sejam fruto da sua fantasia: é um dos maiores
sofrimentos). S (8-7-49)
Apareceu Jesus e vi que (aqueles raios) saíam do seu divino Coração.
Ele chamou-me e disse-me:
— Minha
filha, minha filha, minha amada filha, os raios de fogo que atravessavam o teu
coração são raios de amor do teu Jesus. Estes raios levam-te vida, levam-te
conforto, paz e luz.
É
com esta luz que podes ver quanto necessitas de dar ao teu Esposo Jesus dor,
muita dor, com grande reparação.
Os
crimes não diminuem, os crimes não deixam de aumentar.
Oh,
filha, tantos sacrilégios, tantas iniquidades! S (19-8-49)
— Minha
filha, minha filha, venho com o fogo do meu amor aquecer-te o coração, dar-te
vida, venho provar-te que estou contigo. S (4-3-50)
É preciso ter presente, todavia, uma coisa essencial: todas as graças que
Alexandrina recebe não a têm por fim, mas à missão à que é chamada. Alexandrina
deve transmitir à humanidade o amor, a vida de Jesus:
— Leva
o meu amor, leva a minha paz. Vai dá-la às almas: criei-te para elas e para
elas te fiz poderosa. S (23-4-48)
— Leva
o meu divino amor, vai irradiá-lo. Infunde-o nas almas, fá-lo passar nos
corações como setas. S (25-3-49)
Vi pelo centro do Coração
de Jesus saírem umas chamas de fogo que o irradiavam todo. Perguntei-Lhe:
— Que fogo é esse,
Jesus?
— É o fogo do meu
divino amor. É o fogo, minha filha, é o amor que Eu, por ti, dou ao mundo, dou
às almas.
Espalha-o,
espalha-o! S (21-7-50)
Via o seu lado aberto e
aberto o seu divino Coração. Dele saía uma chuva de ouro e, em vez de cair para
baixo, vinha de encontro ao meu coração. Quanto mais chuva do de Jesus saía,
mais o meu se enchia, mais luz possuía, maior fogo me queimava.
— Estou a arder, meu
Jesus: bendito sejais por tanto me dardes!
Fazei que eu saiba
distribuir como Vos apraz! S (16-6-50)
— Eu
sou a ressurreição e a vida (acabara de reviver a Paixão). E tu, à semelhança
de Jesus, teu Esposo, és ressurreição e vida de muitas almas, de milhares,
milhões e milhões e milhões de almas.
Quando Jesus falava de
milhões, parecia que a sua divina voz se espalhava ao longe e que era um nunca
acabar, nunca acabar.
E, tomando nas suas mãos
sacrossantas o seu divino Coração como se fosse uma custódia cheia de raios
dourados, começou a abençoar-me de cima a baixo.
Os raios que dele pendiam
atravessaram e penetraram todo o meu ser. Parecia ver-me a mim mesma toda luz,
dum lado ao outro. Fiquei como que a arder em fogo.
— Enche-te,
minha filha, do que é divino, enche-te do meu amor!
A
minha graça e tudo o que é meu há-de transparecer de ti e ver-se em ti como em
espelho cristalino. S (23-2-51)
Jesus exprime numa incisiva síntese a missão da Alexandrina:
A entrega da humanidade
A Alexandrina, na sua tarefa de transmitir às almas o que recebe da Jesus,
é apresentada como “mãe da humanidade”, porque a alimenta e a salva.
No êxtase do dia da Imaculada de 1944 está presente também a Mãe, embora
seja sexta-feira. Jesus diz:
— Filhinha,
amada querida, está comigo a minha bendita Mãe; escuta o que Ela te diz. (…)
— Minha
filha, venho com o meu divino Filho fazer-te a entrega da humanidade e fechá-la
em teu coração. Ficam as chaves na posse do teu Jesus e da tua querida
Mãezinha.
(…)
És rainha dos pecadores, és rainha do mundo, escolhida por Jesus e por Maria.
Hoje,
dia da minha Imaculada Conceição, fazemos-te a entrega do teu reinado.
Principia desde hoje, é teu: guia-o, governa-o e guarda-o. Guarda-o na terra
assim como o guardarás e governarás depois nos céus.
Escolhi
este dia que em minha honra é guardado, para que em união comigo seja festejado
o dia em que te entreguei o reinado da humanidade.
E a Mãezinha continuou:
— Filhinha
amada, querida do meu Jesus, recebe a vida de que vives, recebe a vida do Céu,
recebe-a e dá-a às almas. (...)
Recebi novas carícias de
Jesus e da Mãezinha, fiz-Lhe a entrega de mim mesma e de todos os que me são
queridos e por fim do mundo inteiro, incluindo também os que me fazem sofrer.
Mãezinha, faço-Vos a
entrega da humanidade, guardai-a, que é Vossa, salvai-a! Só Vós podeis. S
(8-12-44)
Esta maternidade fá-la sofrer muito. Refere-o em várias ocasiões. Por
exemplo, cerca de dois meses depois dita no diário:
Tenho que transformar este
rochedo: da pedra dura transformá-lo em pedras preciosas, em ouro fino. (...)
tenho que o mover, que o desfazer, tenho que fazer dele um mundo belo,
agradável para Jesus, de encantos para todo o Céu.
Ó Jesus, vede esta
louquinha, vede o martírio que a consome!
Que hei-de fazer pelo
mundo? Como hei-de transformá-lo? De que forma hei-de consolar e alegrar o
vosso divino Coração? S (15-2-45)
Cerca de um mês depois desafoga a sua dor.
Tenho fome, muita fome das
almas. Queria engolir o mundo. Sinto-me cada vez mais mãe dele.
Que loucura a minha por
aquilo que é engano, lodo e imundície! (…)
Sou mãe que chora a perda
de seus filhos; sou mãe que os não pode ver em tanta desordem, em tanta miséria
e crimes.
Ai meu Jesus, o que hei-de
fazer? O que posso eu fazer?
Sou mãe que chora lágrimas
de sangue que banham toda a humanidade. Não posso resistir a tanta dor, não
posso conceder-me trégua: quero salvar o mundo, quero sofrer tudo, quero-lhe
dar a vida. (...) S (8-3-45)
(Tirado do livro
do casal Signorile, intitulado: “Só por amor!”; cap. 9)
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