segunda-feira, maio 03, 2021

MARIA ANA COSTA

 A mãe da beata Alexandrina

Maria Ana, filha mais velha de José António da Costa e de Ana Joaquina Leitão, era uma bela moça alegre e trabalhadeira. Nasceu a 22 de Janeiro de 1877, em Gresufes, um dos muitos lugares de que se compõe a aldeia de Balasar. Teve 4 irmãos e 5 irmãs.

Para memória, aqui fica o seu “assento” de baptismo:

«Aos 24 dias do mês de Janeiro do ano de 1877, nesta Igreja Paroquial de Santa Eulália de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, Diocese de Braga, baptizei solenemente um indivíduo do sexo feminino, a quem dei o nome de Maria e que nasceu nesta freguesia às cinco horas da manhã do dia 22 do mesmo mês e ano, filha legítima de José António da Costa, lavrador, natural desta mesma freguesia, e de Ana Joaquina Leitão, lavradora, natural da freguesia de Minhotães, concelho de Barcelos, desta mesma diocese, e na mesma recebidos, e paroquianos e moradores no lugar de Gresufes desta freguesia de Balasar, neta paterna de Manuel António da Costa e de Joaquina Maria de Freitas e materna de Francisco Manuel de Araújo e de Maria Joaquina Leitão. Foi padrinho Manuel António da Costa e madrinha Maria Joaquina Leitão, lavradores, os quais todos sei serem os próprios.

E para constar lavrei em duplicado este assento que, depois de ser lido e conferido perante os padrinhos, comigo o assinou o padrinho, não assinando a madrinha por não saber escrever.

Era ut supra.

O Padrinho – Manuel António da Costa

O Reitor – António Martins de Faria»

Na sua juventude apaixonou-se por António Gonçalves Xavier, de Vila Pouca, lugar da freguesia, vizinho de Gresufes.

«Maria Ana da Costa conhecia com certeza António Xavier desde a infância, pois Vila Pouca e Gresufes são pegados e as casas dos pais dos dois não distavam mais de 300 metros. O que fizeram nas termas foi sem dúvida estreitar uma relação que antes era só de vizinhança.»[1]

Desta paixão — que era, sem qualquer dúvida, sincera por parte de Maria Ana — nasceu uma primeira filha, a Deolinda, em 21 de Outubro de 1901. Maria Ana tinha então 24 anos.

Naqueles tempos, por razões diversas que não cabe aqui explicar, eram numerosas as mães solteiras, por isso mesmo não deu grande alarido na freguesia que isso tivesse acontecido com aquela jovem camponesa.

Passou-se algum tempo sem que o prometido casamento se realizasse. António Xavier tinha outras ideias: ir para o Brasil ganhar o dinheiro necessário para sustentar a futura esposa e a filha. E assim o fez.

No seu depoimento, a quando do processo diocesano para a beatificação e canonização da Alexandrina, a Deolinda explicou:

«Da minha mãe tive as informações sobre o meu pai que agora exponho.

Era um aventureiro: foi várias vezes ao Brasil. A minha mãe tinha ido para as Termas do Gerês, para cura, e foi lá que o conheceu.»

E mais adiante, diz ainda:

«Voltou do Brasil quando eu já tinha os meus dois anos e começou a andar de novo atrás da minha mãe. Mas como a família (dela) se opunha, ela disse-lhe claramente que naquelas condições não podia casar… Então ele apresentou-se à minha avó e ao meu tio Joaquim e combinou o matrimónio: estavam já a procurar casa quando ele teve de ir para a Póvoa para se curar duma doença contraída no Brasil…

Um dia que a minha mãe tinha ido a Vila do Conde vender hortaliça, no regresso passou pela Póvoa onde tinha marcado um encontro com ele para o informar de que estava novamente grávida (nascerá a Alexandrina). Mas da casa donde tinha saído o meu pai saiu também uma mulher que lhe disse: – Xavier, as minhas tesouras não estarão no teu quarto?

A minha mãe teve assim a confirmação das vozes que já corriam. Xavier protestou que eram tagarelices. Mas na verdade em pouco tempo casou com aquela mulher da Póvoa.

A minha mãe chorou lágrimas amargas e desde então, por toda a vida, vestiu-se quase sempre como uma viúva e dedicou-se exclusivamente à educação das duas filhas…»

Aquela que mais tarde será muitas vezes a “secretária” da Alexandrina, deixou-nos de Maria Ana este testemunho:

«A mãe da Alexandrina reparou de modo edificante os erros da sua juventude. Ou melhor, com a caridade para com todas as pessoas, que a conheciam como mulher de grande coração; depois com uma vida de intensa piedade. Levantava-se cedíssimo. Todos os dias pelas 5 da manhã entrava na igreja, de que tinha a chave. Quando começava a Santa Missa, ela já há duas horas estava de joelhos frente ao Santíssimo. Assim fez enquanto as forças lho consentiram.»

Depois daqueles desaires e respectivas consequências, Maria Ana, sinceramente arrependida da sua conduta, mudou completamente, tornando-se mesmo um exemplo para todos, porque a partir daí manteve “uma conduta irrepreensível”.

Deolinda, falando de sua mãe, presta-lhe esta simples e sincera homenagem:

«A minha mãe ensinou-nos a trabalhar desde pequenas. A sua caridade era conhecida de todos, tanto que o pároco de então disse: – Quando esta senhora morrer, senti-lo-á toda a paróquia. – De facto não havia doente que ela não socorresse. Vinham chamá-la até de noite e ela acorria porque sentia pena. Assistia os moribundos; recitava as orações da agonia; vestia os mortos. Mais, sendo uma boa cozinheira, era chamada per os jantares nos baptizados e nas bodas, como também na residência por ocasião de pregações.»

Na sua autobiografia a Alexandrina fala-nos da sua primeira “teimosia”, que teve resultados pouco lisonjeiros:

«Como era desinquieta e, enquanto minha mãe descansava um pouco, tendo-me deitado junto dela, eu não quis dormir e, levantando-me, subi à parte de cima da cama para chegar a uma malga que continha gordura de aplicar no cabelo – conforme era uso da terra – e, por ter visto alguém fazê-lo, principiei também a aplicá-la nos meus cabelos. Minha mãe deu por isso, falou-me e eu assustei-me. Com o susto, deitei a malga ao chão, caí em cima dela e feri-me muito no rosto. Foi preciso recorrer imediatamente ao médico que, vendo o meu estado, recusou-se a tratar-me, julgando-se incapaz. Minha mãe levou-me a Viatodos, a um farmacêutico de grande fama, que me tratou, embora com muito custo, porque foi preciso coser a cara por três vezes e levou bastante tempo a cicatrizar a ferida.»

No mesmo documento, e com muita ternura a Alexandrina conta a oferta que a mãe lhe fizera: os primeiros soquinhos:

«Uma vez minha mãe deu-me uns soquinhos. Eu fiquei tão contente com eles, porque eram lindos!... Para ver a figura que fazia com eles, preparei-me como se fosse à Missa, calcei-os e depois ajoelhei-me, pondo-os à minha frente, fingindo que estava na igreja. Como era vaidosa!»

Com o mesmo carinho, Alexandrina lembra-se do que lhe dizia a mãe, quando na sua meninice se mostrava irrequieta e tumultuosa:

«Minha mãe dizia: “Os fidalgos têm um bobo para os fazer rir e eu não sou fidalga, mas também tenho quem me esteja a fazer festa”».

Mas Maria Ana tinha punho de ferro e era exigente para com as filhas: deu-lhes uma boa educação religiosa e inculcou-lhes duas grandes virtudes que tanto a uma como a outra, ficaram bem registadas nos seus corações juvenis: a caridade e o amor ao trabalho.

No que toca aos carismas de sua filha, ela sempre se mostrou recatada, quase alheia a eles, ou porque não os compreendesse bem, não os avaliando ao seu justo valor, ou então para deixar que livremente Deus actuasse na Alexandrina, segundo a Sua santíssima Vontade.

Maria Ana faleceu pouco mais de 5 anos após a Alexandrina, em 24 de Janeiro de 1961, e foi sepultada na campa familiar, no Cemitério de Balasar, junto de seu irmão Joaquim Costa, que a precedeu na Mansão celeste.

Afonso Rocha



[1] Prof. José Ferreira “A Balasar da Alexandrina”.

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