terça-feira, maio 18, 2021

QUANTO VOS DEVO, MEU AMOR!

Convosco venci e vencerei sempre


Bendirei ao Senhor. Recebi de Jesus, neste mês bendito da querida Mãezinha, mais um miminho, que veio abrir-me a sepultura, e mais miminhos que vieram cravar-me na chaga do meu coração sempre a sangrar, não a deixando assim cicatrizar. De vez em quando é avivada fortemente. Bendirei sempre a Jesus e à Mãezinha, mas confesso: se não fossem as forças do céu, teria desesperado e morrido. Que grande amor o de Jesus!

— Quanto Vos devo, meu Amor. Convosco venci e vencerei sempre.

Não pude ter uma palavra de queixume; ainda mais mereço pela minha miséria. Estou como a pombinha de bico aberto a bater as asas prestes a perder-se sem ter onde pousar. Tenho sede de luz, tenho sede de conforto.

— Já que na terra me tapam todos os caminhos, deixai-me, Jesus, deixai-me, Mãezinha, entrar nos Vossos Corações amantíssimos. Ainda que nada sinta, deixai-me ao menos a certeza que vivo n’Eles. Lá estou livre de ódios e perseguições, lá estou certa de que Vos amo e não Vos ofendo.

Se o meu corpo pudesse encobrir-se nas trevas para não ser mais visto nem lembrado, como nas trevas foi encoberta a minha alma, assim morreria, não seria mais falada como são os desejos do meu Prelado. É com todo o amor que aceito e obedeço às suas ordens. Não nasceu dentro em mim a mais pequenina sombra de ódio contra ele e contra os seus companheiros. Antes pelo contrário, dizia:

— Meu Jesus, compadecei-Vos deles, não compreendem mais, não conhecem os sofrimentos duma alma. Meu Jesus, se pudesse prostrar-me diante de Vós e de mãos levantadas soubesse agradecer-Vos os miminhos que me dais!

Com o coração a sangrar de dor, não pude com os lábios rezar a Magnificat, mas rezei-a com o pensamento.

— Dai-me força, Jesus, para sofrer e não me condeneis Vós, porque a sentença dos homens nada vale a não ser para meu maior martírio.

Foram os homens que me prepararam o sofrimento de hoje, para mais me assemelhar a Jesus e acompanhá-Lo no caminho do calvário. E lá vou eu, presa com cordas, mas com amor abraçada à cruz. Sou vítima das opiniões dos homens, sou vítima das lágrimas dos meus. Se eu pudesse sofrer sozinha… Bendirei ao Senhor, não quero perder um momento. Os meus olhares continuam a não serem meus. Fitam-se cheios de ternura num e noutro coração que mais se deixa compenetrar destes olhares tão cheios de doçura e amor. Os olhares não vão para todos por igual; os corações, a sua correspondência, é que fazem merecer tudo quanto estes olhares encerram. Tinha tanto que dizer neste ponto! São tantos os que queria atrair e abraçar a mim! (Alexandrina Maria da Costa: 18-05-1945)

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