Convosco venci e vencerei sempre
— Quanto Vos
devo, meu Amor. Convosco venci e vencerei sempre.
Não pude ter uma
palavra de queixume; ainda mais mereço pela minha miséria. Estou como a
pombinha de bico aberto a bater as asas prestes a perder-se sem ter onde
pousar. Tenho sede de luz, tenho sede de conforto.
— Já que na
terra me tapam todos os caminhos, deixai-me, Jesus, deixai-me, Mãezinha, entrar
nos Vossos Corações amantíssimos. Ainda que nada sinta, deixai-me ao menos a
certeza que vivo n’Eles. Lá estou livre de ódios e perseguições, lá estou certa
de que Vos amo e não Vos ofendo.
Se o meu corpo
pudesse encobrir-se nas trevas para não ser mais visto nem lembrado, como nas
trevas foi encoberta a minha alma, assim morreria, não seria mais falada como
são os desejos do meu Prelado. É com todo o amor que aceito e obedeço às suas
ordens. Não nasceu dentro em mim a mais pequenina sombra de ódio contra ele e
contra os seus companheiros. Antes pelo contrário, dizia:
— Meu Jesus,
compadecei-Vos deles, não compreendem mais, não conhecem os sofrimentos duma
alma. Meu Jesus, se pudesse prostrar-me diante de Vós e de mãos levantadas
soubesse agradecer-Vos os miminhos que me dais!
Com o coração a
sangrar de dor, não pude com os lábios rezar a Magnificat, mas rezei-a com o pensamento.
— Dai-me
força, Jesus, para sofrer e não me condeneis Vós, porque a sentença dos homens
nada vale a não ser para meu maior martírio.
Foram os homens
que me prepararam o sofrimento de hoje, para mais me assemelhar a Jesus e
acompanhá-Lo no caminho do calvário. E lá vou eu, presa com cordas, mas com
amor abraçada à cruz. Sou vítima das opiniões dos homens, sou vítima das
lágrimas dos meus. Se eu pudesse sofrer sozinha… Bendirei ao Senhor, não quero
perder um momento. Os meus olhares continuam a não serem meus. Fitam-se cheios
de ternura num e noutro coração que mais se deixa compenetrar destes olhares
tão cheios de doçura e amor. Os olhares não vão para todos por igual; os
corações, a sua correspondência, é que fazem merecer tudo quanto estes olhares
encerram. Tinha tanto que dizer neste ponto! São tantos os que queria atrair e
abraçar a mim! (Alexandrina Maria da Costa: 18-05-1945)
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