Quero remediar este mal e não posso
Não quero o
mundo; quero desaparecer dele, morrer para ele; não quero o mundo, nem nada que
lhe pertença. Quero as almas, quero as almas todas que nele habitam, porque
essas sim, essas só a Jesus pertencem. Deixo-me crucificar e morrer por elas.
Não posso pensar na perda das almas; não posso pensar que Jesus é ofendido. Eu
não quero o amor das criaturas; quero o amor do meu Jesus. Eu não quero ofendê-Lo
nem sabê-Lo ofendido. Que sede de me dar a Ele, de Lhe pertencer, de morrer por
Ele! Que sede de ver o mundo, ou melhor, as almas nas mesmas ânsias, nas mesmas
pretensões. Queria tudo numa só alma, num só coração, num só amor. O meu
coração está cansado de tanta ansiedade, de tanta sede de amor. Eu não sei quem
continuamente bebe em mim e bebe sofregamente; a minha alma sente, os meus
ouvidos ouvem o saborear, o beber ofegante desta bebida. Continuo a ser o poço
inesgotável, apesar de, noite e dia, sem parar, dar água com toda a abundância
a quem quer beber. Depois disto não sou nada, não dou nada, em mim nada há. Eu
não vivo mas há em mim outra vida que vive e ama, que vive e possui tudo.
Queria viver esta vida, amá-la, perder-me nela, enlouquecer por ela. Ó meu
Deus, ó meu Deus, eu quero que as minha loucuras sejam só para Jesus e para as
almas. Sinto que esta vida é ferida, ultrajada, calcada aos pés de ingratos. Eu
não posso consentir em tal, quero remediar este mal e não posso. Sinto o meu
corpo ralado, moído, desfeito pela dor. Por vezes digo: meu Deus, como se vive,
como se pode resistir a tanto. Meu Jesus, sou a Vossa vítima, aceitai o incenso
do meu sofrimento, que ele suba ao Céu constantemente, dia e noite, sem parar,
para ser a reparação da bondade de Deus ultrajado. Fito os olhos em Jesus
crucificado, compadeço-me dos Seus sofrimentos, quero evitá-los e não posso;
sofro amarguradamente com Jesus. Fito novamente a imagem do Seu divino Coração
e peço-Lhe: deixai-me entrar, Jesus, no Vosso divino Coração, para me esconder
e incendiar. E fazei que eu vá como um sopro, como uma aragem suave, levar a
todos os corações a Vossa graça, o fogo do Vosso amor. Digo e não sou eu, falo
e não sei falar. Ó meu Deus, e assim me vou mergulhando nesta abismo medonho de
cegueira, abismo, cegueira, que não mais terá fim. Sinto-me nela como peixe na
água; quanto mais me mergulho em cegueira, mais obrigada me sinto a,
profundamente, me mergulhar. E sempre sobre esta cegueira um mar tempestuoso,
com fúrias desastrosas. E o coração a sangrar, sempre a sangrar; com que
crueldade eu o sinto ser apunhalado! Que finos e dolorosos são os fios que o
cortam! Ó minha cruz, eu te amo! Ó Mãezinha, eu sou Vossa; dai-me força e amai
por mim a Jesus, amai-O em nome de todas as almas. (Alexandrina
Maria da Costa: Sentimentos da alma: 9 de Maio de 1947)
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