Até me chamavam Maria-Rapaz
Gostava muito de trabalhar: arrumava a casa, acarretava a lenha e fazia
outros serviços caseiros. Tinha gosto que o trabalho fosse bem feito e gostava
de andar asseadinha. Também lavava roupa e, quando mais não tinha, era o meu
aventalinho que trazia à cinta. Quando não sabiam de mim, era quase certo
encontrarem-me a lavar num ribeiro que corria perto de casa.
Um dia, fui com a minha irmã e uma prima apascentar o gado, entre ele uma
égua. A certa altura, a égua fugia para o lado do campo que estava cultivado e,
como a fosse tornar, ela atirou-me ao chão, dando-me com a cabeça, e depois
colocou-se sobre mim; de vez em quando raspava-me o peito com uma pata sobre o
meu coração, como quem brinca. Levantava-se, relinchava e voltava a fazer o
mesmo. Fez assim algumas vezes, mas não me magoou.
As minhas companheiras gritaram e acudiram várias pessoas que ficaram admiradas
de eu sair ilesa da brincadeira do animal. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)
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