domingo, maio 02, 2021

DE MÃOS VAZIAS...

Quero fugir do mundo

Eternidade que tão à pressa passas; eternidade que nunca chegas. Passa, voa e eu voo com ela sem nada, de mãos vazias para dar contas a Jesus. Nunca passa, nunca chega a verdadeira eternidade que me vai dar o Céu.


Quem poderá viver assim, meu Jesus! Dai-me a Vossa graça sem a qual a vida neste exílio é de desespero; é morte. Quero voar para Jesus, quero amá-Lo e não sou capaz de formar para Ele o voo e de O amar com a ansiedade, que exige o Seu coração. Quero fugir do mundo, esconder-me dele e dele desaparecer, e nunca mais consigo. Um momento é uma eternidade; é um momento que nunca passa, que nunca tem fim. Só o momento de ver Jesus a pedir-me contas, a ver-me e a encontrar-me sem nada, só revestida da maior miséria é rápido, não se lhe dá tempo de Lhe dizer: quem sois Vós, Senhor, e quem sou eu; parai um pouco, e deixai-me cobrir ao menos com agasalho alheio; estou nua, Jesus. Meu Deus, que confusão a minha: não tenho tempo para nada! O que fiz eu da minha vida? Como aproveitei o tempo que me destes? Que horror, ó meu Jesus! Mas Vós sois toda a minha loucura; só por Vós quero sofrer, só por Vós quero amar, só de Vós quero falar e pensar; não quero outra vida, que não seja a Vossa. Sinto-me como se fosse um poço no qual nem um só momento cessam de tirar a água. Que movimento! Esta água, que é tirada, vai para cima, nela bebe quem quer; este poço é inesgotável, não seca mais, tem sempre a mesma água. Está em mim e não é meu; está em meu poder e não me pertence. Contudo estou ansiosíssima por repartir, por dar a beber a todos. Sinto que é água de salvação. Oh! como eu a queria dar! Dar do que me não pertence e não tenho escrúpulo; roubo sem medo de ser pelo dono castigada. Ó meu Deus, ó meu Jesus, queria dar tudo, tudo, toda esta água, queria nela mergulhar todo o mundo. Morre, Jesus; morre com ânsias!

(Sentimentos da alma: 2 de Maio de 1947 - Sexta-feira).

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