Quero fugir do mundo
Eternidade que tão à pressa passas; eternidade que nunca chegas. Passa, voa e eu voo com ela sem nada, de mãos vazias para dar contas a Jesus. Nunca passa, nunca chega a verdadeira eternidade que me vai dar o Céu.
Quem poderá viver assim, meu Jesus!
Dai-me a Vossa graça sem a qual a vida neste exílio é de desespero; é morte.
Quero voar para Jesus, quero amá-Lo e não sou capaz de formar para Ele o voo e
de O amar com a ansiedade, que exige o Seu coração. Quero fugir do mundo,
esconder-me dele e dele desaparecer, e nunca mais consigo. Um momento é uma
eternidade; é um momento que nunca passa, que nunca tem fim. Só o momento de
ver Jesus a pedir-me contas, a ver-me e a encontrar-me sem nada, só revestida
da maior miséria é rápido, não se lhe dá tempo de Lhe dizer: quem sois Vós,
Senhor, e quem sou eu; parai um pouco, e deixai-me cobrir ao menos com agasalho
alheio; estou nua, Jesus. Meu Deus, que confusão a minha: não tenho tempo para
nada! O que fiz eu da minha vida? Como aproveitei o tempo que me destes? Que horror,
ó meu Jesus! Mas Vós sois toda a minha loucura; só por Vós quero sofrer, só por
Vós quero amar, só de Vós quero falar e pensar; não quero outra vida, que não
seja a Vossa. Sinto-me como se fosse um poço no qual nem um só momento cessam
de tirar a água. Que movimento! Esta água, que é tirada, vai para cima, nela
bebe quem quer; este poço é inesgotável, não seca mais, tem sempre a mesma
água. Está em mim e não é meu; está em meu poder e não me pertence. Contudo
estou ansiosíssima por repartir, por dar a beber a todos. Sinto que é água de
salvação. Oh! como eu a queria dar! Dar do que me não pertence e não tenho
escrúpulo; roubo sem medo de ser pelo dono castigada. Ó meu Deus, ó meu Jesus,
queria dar tudo, tudo, toda esta água, queria nela mergulhar todo o mundo.
Morre, Jesus; morre com ânsias!
(Sentimentos da
alma: 2 de Maio de 1947 - Sexta-feira).
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